Eustaquio Sirolli, MSc.
Davi Lopes, PhD.
Como parte da história da evolução dos meios de transporte, é interessante relatar a chegada dos veículos motorizados como alternativa à tração animal. A literatura revela que os animais utilizados para puxar carroças deixavam cerca de 1.000 toneladas de esterco por dia em Nova Iorque. Existem relatos sobre a dificuldade das pessoas em trafegar pelas ruas, especialmente aquelas que usavam vestidos longos, devido à sujeira considerável.
Nesse cenário, surge William Durant, conhecido como "o fabuloso Bill". Um antigo fabricante de carroças, que ao observar os veículos com motor a combustão interna circulando pela cidade (sem emitir esterco), rapidamente decidiu abandonar o negócio de carroças e investir em veículos autopropelidos. E, entre outras marcas, ele fundou a grande General Motors (GM).
Aqui pedimos uma pausa e imaginemos os Homo sapiens da época questionando a nova tecnologia que nascia: "Por que trocar uma propulsão que se auto abastece (equinos) com um combustível renovável (gramíneas e outras plantas) por veículos que necessitam de uma grande infraestrutura de abastecimento, extração e refino de petróleo, distribuição e armazenamento? Isso nunca dará certo; temos grama em qualquer lugar". (Alguma semelhança com a retórica atual?)
Inequivocamente, a chegada do diesel e da gasolina criou uma estrutura de transporte mais limpa (literalmente) e eficiente, especialmente em comparação com as condições da tração puramente animal. Os seres humanos tem essa busca incansável de maneiras de tornar a vida mais fácil...
Isso nos faz refletir sobre a grande contribuição dos combustíveis fósseis para termos a vida que temos hoje. Eles nos proporcionaram a base para buscar novas soluções energéticas mais limpas e eficientes, assim como o petróleo substituiu a tração animal. É importante entendermos que chegamos até aqui graças a toda a cadeia do petróleo.
E, se pensarmos bem, estamos constantemente vivenciando novas revoluções energéticas e buscando maneiras mais eficientes de impulsionar nosso desenvolvimento. Atualmente, estamos particularmente preocupados com as emissões de dióxido de carbono equivalente, que os combustíveis fósseis liberam ao serem utilizados. Assim como fizemos a transição dos cavalos para veículos motorizados, agora precisamos buscar novas soluções energéticas para enfrentar outros desafios.
É nesse contexto que o hidrogênio se destaca como um vetor de energia, acrescentando-se ao rol de opções já existentes. As transições energéticas não se resumem a "esta ou aquela energia"; não se trata de uma simples substituição, mas sim do uso racional de todas as fontes disponíveis, incluindo as fósseis. Dessa forma, o processo de transição energética pode ser inclusivo, beneficiando a todos, já que os efeitos de não realizar impactarão o mundo.
O hidrogênio é o elemento mais abundante do universo (presente nas estrelas) e, na Terra, geralmente está ligado a outros elementos químicos, como em H2O (água), CH4 (metano) e C2H5OH (etanol), entre muitos outros. Podemos obtê-lo por meio de processos como a eletrólise da água e a reforma a vapor do metano ou do etanol.
Contudo, como já disse um sábio, "todo problema complexo tem uma solução simples e errada". Não vamos cair nessa armadilha. A construção da cadeia de suprimentos de hidrogênio energético será demorada, exigirá grandes investimentos e, além disso, devemos considerar a resistência natural do ser humano à mudança.
Por outro lado, o hidrogênio é sim uma opção racional, pois não possui cadeia carbônica em sua estrutura e não envolve combustão na eletro- mobilidade. As células a combustível, dispositivos eletroquímicos, geram energia elétrica, calor e água (H2 + O). Isso permite, em um único movimento, eliminar poluentes das grandes cidades (beneficiando a saúde pública) e reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
O Brasil é iluminado tanto literal quanto figurativamente. Literalmente, pelo abundante sol que recebe, e figurativamente, por dispor de todas as fontes necessárias para a obtenção de hidrogênio bem como progredir em outras soluções energéticas para enfrentar os novos desafios do mundo.
Vamos focar na introdução do etanol combustível no Brasil. Esta solução energética surgiu em resposta às crises do petróleo dos anos 70, deixando um legado de mais de 40.000 postos de combustíveis, que podem se tornar potenciais pontos de distribuição de hidrogênio. Da mesma forma, já contamos com biodiesel e biometano como substitutos mais limpos para o diesel de origem fóssil.
Ou seja, o Brasil é um país que pode ajudar todas as nações a se tornarem mais limpas e a realizarem suas transições energéticas, aproveitando nossa expertise. Somos, de fato, um benchmark mundial em transições energéticas.
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