Por Joao Pedro Neves
Quando estudamos a evolução e desenvolvimento da sociedade, percebemos que isso está intimamente ligado a capacidade de gerar e consumir energia. Isso se dá pelos mais diferentes aspectos que vão da capacidade humana de ter energia para viver mais e melhor (alimentação), a capacidade de mover as coisas de um lugar para o outro (logística) indo até a capacidade de gerar armas de guerra capazes de destruir a própria existência humana. É interessante como o nível médio de consumo de países desenvolvidos chegou em uma estabilidade mas o Brasil ainda tem espaço a percorrer, pelo menos o dobro do consumo per capita.
Entretanto o que define essa evolução são as suas instituições econômicas que por sua vez são determinadas por sua política e suas instituições políticas. De forma pragmática trata-se de criar um ambiente em que as pessoas tenham confiança de que os projetos com que sonharam podem ser implementados: (1) Confiam nas instituições e no Estado de Direito e não se preocupam com a segurança dos direitos de propriedade; (2) Confiam que as instituições políticas garantirão estabilidade e continuidade; (3) Confiam que nenhum interesse específico possa conduzir o Governo rumo a um desastre econômico, já que o poder político, além de limitado, está distribuído de maneira suficientemente ampla para permitir o surgimento de um conjunto de instituições econômicas que criam incentivos para a prosperidade.
Vivemos um momento no mundo em que passamos por mais uma transição energética e também por mudanças geopolíticas importantes, com grande ameaça a hegemonia dos Estados Unidos. Como estamos no meio do processo ainda não podemos entender ao certo as direções, só conseguimos entender que avançamos para uma matriz energética diferente e mais eficiente, que existe uma divisão dos poderes econômicos globais que ainda não estão refletidas na governança das instituições globais, que a internet e a velocidade da informação tem impactos políticos grandes e que a inteligência artificial poderá aumentar ainda mais as desigualdades no mundo se não cuidarmos (ameaças costumam ser grandes oportunidades).
Por que é importante falar disso no contexto atual?
Ao longo dos anos tivemos a capacidade de criar um mercado de energia que dentro do seu contexto histórico foi exitoso, mas carregou algumas questões estruturais que não possibilitam que a sociedade como um todo seja beneficiada. Vamos pegar um momento da história para demonstrar como esses momentos são fundamentais no desenvolvimento da sociedade e como isso tem impactos profundos e duradouros.
A história europeia fornece um exemplo vivido das consequências da destruição criativa. As vésperas da Revolução Industrial no século XVIII, os governos da maioria dos países europeus eram controlados pelas aristocracias e elites tradicionais, cuja maior fonte de receita provinha da posse de terra ou da venda de privilégios adquiridos graças aos monopólios concedidos e às barreiras de entrada impostas pelos monarcas. Em conformidade com a ideia de destruição criativa, a expansão de indústrias, fábricas e cidades retirou recursos da terra, reduziu a renda e aumentou os salários que os donos de terras tinham de pagar a seus trabalhadores. Essas elites também viram surgir novos empresários e comerciantes, reduzindo seus privilégios de comércio. No fim das contas, foram os perdedores econômicos da industrialização. A urbanização e o surgimento de uma classe média trabalhadora socialmente consciente também desafiavam o monopólio dos aristocratas donos de terras. Portanto, com a expansão da Revolução Industrial, as aristocracias se tornavam não apenas perdedoras econômicas, mas também corriam o risco de perder influência sobre o poder político. Com o poder político e econômico sob ameaça, essas elites se juntavam para formar uma oposição formidável contra a industrialização.
A aristocracia não foi a única a perder com a industrialização. Artesãos cujas habilidades manuais estavam sendo substituídas pela mecanização também se opunham à expansão da indústria. Muitos se organizaram em oposição, protestando e destruindo as máquinas, que viam como responsáveis pelo declínio de sua qualidade de vida. Eram os luditas, uma palavra que hoje é sinônimo de resistência a qualquer mudança tecnológica. John Kay, inglês que inventou a “lançadeira transportadora” em 1733, um dos mais significativos avanços na mecanização da tecelagem, teve sua casa incendiada pelos luditas em 1753. James Hargreaves, inventor da máquina de fiar hidráulica Jenny, mais um avanço revolucionário, recebeu um tratamento similar.
Na realidade, a oposição dos artesãos à industrialização foi muito menos efetiva do que a dos donos de terras e das elites. Os luditas não tinham nem de perto o mesmo poder político – a habilidade de afetar os resultados políticos contra o desejo de outros grupos – dos aristocratas donos de terras. Na Inglaterra, a industrialização seguiu em frente apesar da oposição dos luditas simplesmente porque a oposição aristocrata, mesmo forte, foi silenciada. Nos impérios Austro-Húngaro e Russo, os monarcas absolutistas e aristocratas tinham muito mais a perder, e a industrialização foi impedida. Como consequência, as economias da Áustria-Hungria e da Rússia ficaram estagnadas; não acompanharam as outras nações europeias, onde o crescimento econômico decolou no século XIX.
Independentemente do sucesso ou fracasso de grupo específicos, uma lição é clara: grupos poderosos com frequência se colocam contra o progresso econômico e os mecanismos de prosperidade. O crescimento econômico não é apenas um processo que envolve maior quantidade de máquinas, melhores do que as anteriores, e mais pessoas instruídas, mas é também um processo transformativo e desestabilizante que promove destruição criativa generalizada. O crescimento, portanto, só avança se não for impedido pelos grupos que terão perdas econômicas e preveem a diminuição ou extinção de seus privilégios ou pelos grupos que terão perdas políticas e temem uma redução de poder.
O conflito por recursos escassos, receita e poder se traduz em conflito pelas regras do jogo e instituições econômicas, que vão determinar as atividades econômicas e quem se beneficia delas. Quando há conflito, não há como atender aos interesses de todos. Alguns serão derrotados e frustrados, enquanto outros conseguirão garantir os resultados que desejam. A decisão sobre o vencedor desse conflito tem consequências fundamentais para a trajetória econômica de uma nação. Se os grupos opositores saem vencedores, podem impedir o crescimento econômico, e a economia ficará estagnada.
A lógica da razão pela qual os poderosos não necessariamente querem criar instituições econômicas que promovam o sucesso econômico é a mesma que rege a escolha das instituições políticas. Num regime absolutista, algumas elites podem ter poder para constituir as instituições econômicas que preferem. Elas estariam interessadas em mudar as instituições políticas para torna-las mais plurais? Em geral, não, pois isso iria diluir seu poder político, dificultando, e talvez impossibilitando, a estruturação de instituições econômicas que promovam seus interesses. Essa é mais uma fonte de conflito. As pessoas que sofrem a ação das instituições econômicas extrativistas não podem esperar que os governantes absolutistas mudem voluntariamente as instituições políticas e redistribuam o poder na sociedade. A única maneira de mudar essas instituições políticas é forçar a elite a criar instituições mais plurais.
Isso é bem similar ao que ocorre hoje no Brasil no mercado de energia em relação a evolução dos 4D´s: digitalização, descentralização, descarbonização e democratização que tem como marco mais preponderante a GD. Claramente a questão está vinculada a abertura de mercado e a essa oscilação do poder. As forças atuais do poder econômico da energia do Brasil, o status quo, querem manter as coisas da forma como estão o que claramente já não é mais possível. O mercado de energia global avançou no caminho da abertura de mercado há muito tempo e já mostrou que esse é o caminho que funciona e acaba por entregar maior valor a sociedade como um todo. Precisamos de um setor de energia que sirva o Brasil e não de um Brasil que sirva ao setor de energia. A era dos subsídios, de empreendimentos que não são financiados pelo mercado, que não proporciona incentivo a inovação e que não é focada na entrega do valor para o cliente (que deve ser livre para decidir o que quer) acabou!
Precisamos entender e buscar conhecimento para possibilitar que tenhamos um mercado de energia mais justo, com instituições fortes e que fomentem questões inclusivas e não extrativistas e que encaminham para a prosperidade. Precisamos urgentemente abrir o mercado de energia e desenvolver os produtos e serviços possíveis de serem desenvolvidos e junto fomentar um mercado de capitais robusto e transparente para que o mercado de energia efetivamente sirva ao Brasil, e além disso proporcione o avanço das nossas instituições econômicas contribuindo dessa forma para o avanço do nosso país, a evolução que vem com a destruição criativa precisa prevalecer, o que nos trouxe até aqui não nos levará para o futuro e isso faz parte de uma reflexão importante.
A nova profissão do mercado de energia está aí, e cada vez mais conseguimos ver pessoas empreendendo e levando para frente suas vidas com base no aprofundamento do conhecimento e foco no cliente!
A profissão de Energy Advisor está emergindo como uma realidade necessária para enfrentar esses desafios e promover um ciclo positivo de inovação e desenvolvimento no setor energético. É essencial adquirir conhecimento, exigir políticas adequadas e promover um mercado energético equilibrado e livre.
A nova profissão do mercado de energia está aí e já é uma realidade!
João Pedro Correia Neves é graduado em Administração de Empresas e MBA na FIA-USP, fez especialização em diversos países como Itália, Estados Unidos (Chicago e São Francisco) e China (onde integrou o grupo de estudo Brasil – China da FIA-USP). Atua no setor elétrico desde 2003 nos segmentos de distribuição, geração, comercialização e gestão de energia, além de ter atuado no setor de telecomunicações. Atuou nos primeiros leilões de energia regulado e na migração do mercado livre para o modelo que existe hoje no pós-apagão. Além disso teve participação na consolidação da operação da Net-Claro-Embratel, nas Olimpiadas 2016, e dentre outras grandes projetos criou o projeto “A Energia da Claro”. Trabalhou na Duke Energy, AES (Eletropaulo, Tiete, Uruguaiana, Brasiliana e AES Sul) e na Claro. Hoje é sócio e conselheiro da RZK Energia, sócio e fundador da Sol – Internet of People, conselheiro da ABGD (Associação Brasileira de Geração Distribuída) e do INEL (Instituto Nacional de Energia Limpa).
Parabéns por seu conteúdo João
Excelente texto, real e muito bem escrito, no entanto gostaria de saber de forma mais clara o que faz um Energy Advisor e como podemos iniciar esse movimento no Brasil.
Muito obrigada João pela contribuição no nosso segmento.
Parabéns João.
Como faz para ser um Advisor ???