ENERGY ADVISOR: Instituições Extrativistas vs Instituições Inclusivas
- Joao Pedro Neves
- há 15 minutos
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Por Joao Pedro Neves
Quando analisamos as diferentes sociedades ao longo dos tempos, percebemos que algumas tiveram a capacidade de se desenvolver mais ou menos. E isso tem bastante a ver com a forma como os poderes políticos e econômicos se equilibram e possibilitam que a destruição criativa ocorra.

E para que isso ocorra, leva anos e requer reformas institucionais que tornem essas estruturas mais inclusivas, apesar do charme irresistível do crescimento autoritário.
Algumas questões são basilares para que possam haver instituições inclusivas, como: (I) direito de propriedade; (II) lei e ordem; (III) não haver domínio sufocante de elites sobre a vida política e econômica; e (IV) democracia.
Há imensas diferenças nos padrões de vida no mundo. Mesmo os cidadãos mais pobres dos Estados Unidos têm renda e acesso a tratamento de saúde, educação, serviços públicos e oportunidades econômicas e sociais muito superiores ao que está disponível para a imensa massa de pessoas que vive na África Subsaariana, no Sul da Ásia e na América Central.
A relação entre instituições econômicas e políticas inclusivas e prosperidade é central. Instituições econômicas inclusivas que garantem o direito à propriedade, criam oportunidades igualitárias e incentivam investimentos em novas tecnologias e habilidades têm mais chances de levar ao crescimento econômico do que instituições econômicas extrativistas, estruturadas para que poucos possam extrair recursos de muitos e que não protegem o direito à propriedade nem oferecem incentivos para a atividade econômica.
De acordo com teoria prêmio Nobel de Acemoglu e Robinson.
Instituições econômicas inclusivas, por sua vez, apoiam e são apoiadas por instituições políticas inclusivas, ou seja, instituições que distribuem amplamente o poder político de maneira pluralista e são capazes de obter certo grau de centralização política, de modo a estabelecer a lei e a ordem — as bases para a segurança dos direitos de propriedade e uma economia de mercado inclusiva.
Da mesma forma, instituições econômicas extrativistas concentram o poder nas mãos de poucos, que terão incentivos para manter e desenvolver essas mesmas instituições em seu benefício, usando os recursos obtidos para consolidar seu domínio sobre o setor público.
Essas transições são históricas, mas não historicamente predeterminadas. Grandes mudanças institucionais acontecem como resultado da interação entre instituições vigentes e conjunturas críticas — grandes acontecimentos que perturbam o equilíbrio político e econômico, como a Peste Negra, a abertura das rotas comerciais do Atlântico e a Revolução Industrial.
Por exemplo, apesar de muitas similaridades entre a Inglaterra, a França e a Espanha, a conjuntura crítica do comércio transatlântico teve impacto mais transformador na Inglaterra por causa de pequenas diferenças — nos séculos XV e XVI, a coroa inglesa não tinha como controlar o comércio exterior, enquanto na França e na Espanha esse comércio estava basicamente sob monopólio da coroa.
Construir a prosperidade não é simples, e não há maneiras fáceis de elevar um país da pobreza para a prosperidade do dia para a noite ou ao longo de poucas décadas.
Entretanto, existem muitas “microfalhas de mercado” que podem ser corrigidas com bons conselhos, e a prosperidade virá caso os formuladores de políticas públicas aproveitem essas oportunidades.
Pequenas falhas de mercado estão em todo lugar nos países pobres, especialmente nos sistemas educacionais, no sistema de saúde e na forma como os mercados são organizados.
Mas o problema é que essas pequenas falhas de mercado podem ser apenas a ponta do iceberg — o sintoma de problemas com raízes mais profundas em uma sociedade que opera sob instituições extrativistas.
Os formuladores de políticas públicas e burocratas que, em tese, deveriam agir com base em conselhos bem intencionados muito provavelmente são parte do problema – e as várias tentativas de consertar essas ineficiências podem sair pela culatra justamente porque os responsáveis por elas não estão tentando combater as causas institucionais da pobreza.
E aqui surge o link para a discussão sobre o mercado de energia elétrica no Brasil.
Sabemos que temos um diferencial competitivo em relação ao restante do mundo na questão energética — afinal, somos gigantes pela própria natureza.
O momento de transição energética e de discussão sobre o mercado de carbono nos coloca em uma posição privilegiada novamente na história.
As tecnologias disponíveis já permitem que a entrega desse valor seja feita de forma descentralizada e abrangendo a totalidade das pessoas do Brasil – e do mundo.
Temos a possibilidade de exportar modelos de negócio inovadores. E, ainda assim, não concluímos a abertura do mercado de energia elétrica no Brasil. Precisamos ser assertivos nessa questão.
Modelos centralizados e com monopólios concedidos precisam ser reduzidos ao máximo – porque isso só interessa a poucos, e não à grande maioria dos brasileiros.
A eletrificação das coisas, ou a “era elétrica”, já demonstrou que gera muito mais valor quando é feita de forma descentralizada, privilegiando os empreendedores do Brasil.
E estamos falando em geração de renda de verdade — e não de valores para subsistência.
A geração distribuída demonstrou que, quando a regulação chama os empreendedores do Brasil a agir, eles respondem de forma rápida e criativa — levando prosperidade para suas famílias e suas comunidades.
A geração distribuída amparou centenas de milhares de empregados das grandes empresas de engenharia do Brasil, depois do que ocorreu com elas em decorrência da Lava Jato.
Estamos falando de centenas de milhares de pessoas que ganham bem e fazem a economia circular, ao contrário do que acontece em outros setores.
Não resta mais dúvida sobre a capacidade dos brasileiros de fazer com que o mercado de energia entregue valor para o país.
Por outro lado, as forças que desejam a centralização e buscam concentrar os benefícios que deveriam ser de todos em poucas mãos continuam impedindo essa virada.
O mercado precisa ser livre e as instituições devem atuar para regular distorções – e não para mantê-las.
Precisamos tratar os contratos legados, implementar medidores inteligentes e alocar os encargos no orçamento da União (exceto os de seguro do sistema).
A receita é simples e conhecida por quase todos profissionais do setor. Já perdemos mais de 20 anos com um modelo de mercado ineficiente, que a cada ciclo nos apresenta novas “ideias brilhantes” que não fecham a conta.
Os Energy Advisors estão se multiplicando e prosperando — e precisam ser cada vez mais incentivados. O modelo de negócio está cada vez mais claro, e cada profissional tem focado no seu diferencial competitivo. Isso torna o que é entregue ao cliente mais completo, mais assertivo e mais valioso.
Cresce com força a capacidade dos Energy Advisors de avaliar as contas dos clientes sob diversos aspectos. Com isso constrói-se uma plataforma poderosa, que reduz assimetrias de informação e contribui para diminuir a arbitragem de preços.
Esse é o caminho para o Brasil.
Precisamos que o mercado de energia elétrica sirva aos brasileiros — e não que os brasileiros sirvam ao mercado de energia elétrica.
A nova profissão do mercado de energia está aí, e cada vez mais conseguimos ver pessoas empreendendo e levando suas vidas adiante com base no aprofundamento do conhecimento e foco no cliente.
A profissão de Energy Advisor emergiu como uma realidade necessária para enfrentar esses desafios e promover um ciclo positivo de inovação e desenvolvimento no setor energético.
É essencial adquirir conhecimento, exigir políticas adequadas e promover um mercado energético equilibrado e livre.
A nova profissão do mercado de energia está aí — e já é uma realidade!
João Pedro Correia Neves é graduado em Administração de Empresas e MBA na FIA-USP, fez especialização em diversos países como Itália, Estados Unidos (Chicago e São Francisco) e China (onde integrou o grupo de estudo Brasil – China da FIA-USP). Atua no setor elétrico desde 2003 nos segmentos de distribuição, geração, comercialização e gestão de energia, além de ter atuado no setor de telecomunicações. Atuou nos primeiros leilões de energia regulado e na migração do mercado livre para o modelo que existe hoje no pós-apagão. Além disso teve participação na consolidação da operação da Net-Claro-Embratel, nas Olimpiadas 2016, e dentre outras grandes projetos criou o projeto “A Energia da Claro”. Trabalhou na Duke Energy, AES (Eletropaulo, Tiete, Uruguaiana, Brasiliana e AES Sul) e na Claro. Hoje é sócio e conselheiro da RZK Energia, sócio e fundador da Sol – Internet of People, conselheiro da ABGD (Associação Brasileira de Geração Distribuída) e do INEL (Instituto Nacional de Energia Limpa).
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