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O Brasil deve produzir hidrogênio para fins energéticos?

Foto do escritor: Ansgar PinkowskiAnsgar Pinkowski

Apesar de seu enorme potencial energético, o Brasil deve reavaliar o foco no hidrogênio verde e explorar mercados mais imediatos e promissores, como derivados verdes de amônia e metanol.



O Brasil deve produzir hidrogênio para fins energéticos?
O Brasil deve produzir hidrogênio para fins energéticos?

Nos últimos anos o Brasil tem se dedicado para se posicionar como um país que é capaz de suprir a sede por energias renováveis de outras nações, especialmente os desenvolvidos, que estão em busca de uma neutralidade de carbono como meta para as próximas duas décadas. 


Sabemos que o potencial das fontes eólicas e solares no Brasil é indiscutível. É expressivo o número de empresas que têm assinado Memorandos de Entendimento (MoUs) para entrar no mercado promissor de exportação de hidrogênio verde (H2V) e seus derivados. Os planos da União Europeia, Reino Unido e Estados Unidos para a descarbonização das suas economias e carência de energias renováveis locais, abrem muitas oportunidades para o Brasil.


Tese da qual fui, durante muito tempo, um defensor. Tudo indicava que seria um bom negócio, uma vez que o País supre a demanda de energia limpa, com a natural vocação e abundância de recursos à disposição. Entretanto, hoje carrego um novo ponto de vista e trago novos caminhos para a transição energética. 


Na minha última viagem à Europa, tive a oportunidade de conversar com empresas e instituições diversas. Pude compreender e me atualizar sobre o andamento dos planos de descarbonização dos países como Alemanha, Holanda, entre outros. Fato que me levou a analisar e redefinir alguns conceitos, principalmente quanto às expectativas de desenvolvimento do mercado europeu a curto e médio prazo. Neste texto, convido você a acompanhar o meu raciocínio e discutir o rumo, ou melhor, o foco dos projetos de hidrogênio verde no Brasil. 


Recentemente, o governo alemão lançou a sua estratégia de importação de hidrogênio. Esse lançamento permitiu uma nova perspectiva sobre como a demanda vai se desenvolver nos próximos anos. Em 2030, a Alemanha espera consumir 95 – 130 TWh de hidrogênio e seus derivados. 


Considerando os números, o governo esclareceu que está prevista a instalação de uma rede de gasoduto de 9.700km até 2032, atendendo os principais centros industriais na Alemanha e conectado ao Backbone europeu de distribuição de hidrogênio. Uma parte será feita por adaptação da rede de Gás Natural existente, a outra parte será construída. Este gasoduto terá interconectores internacionais e será alimentado por terminais de hidrogênio nos portos na Alemanha e outros em construção.


Outro ponto de atenção na estratégia de importação é a diversificação de rotas para importar hidrogênio e seus derivados, tornando-se essencial, após experimentar o duro efeito de dependência do gás natural da Rússia. É claro que o preço é um fator importante, mas outros critérios como o potencial de fornecimento, estabilidade política e econômica, também terão o seu peso para selecionar as parcerias energéticas.


O hidrogênio será usado principalmente para descarbonizar a indústria química e siderúrgica, no transporte rodoviário, aéreo e marítimo. 


Disponibilidade de alternativas mais competitivas
Disponibilidade de alternativas mais competitivas

A geração de energia deve se desenvolver aos poucos com a substituição do gás natural e carvão ou para o uso de hidrogênio como um estoque sazonal em cavernas de sal. Por motivos de disponibilidade de alternativas mais competitivas, o uso para a geração de calor tanto industrial como residencial não tem prioridade por enquanto.



Analisando o cenário atual e após discussões com empresas e instituições alemãs, observei o seguinte progresso no mercado de uso de hidrogênio na Alemanha, conforme ilustrado no gráfico.


 No período de 2024 a 2027, surgirão as primeiras demandas em escala industrial. Estas serão atendidas pela produção interna da Alemanha, suportada pelos 10 GW de capacidade eletrolítica nacional previstos até 2030. Por essa razão, não se espera um volume significativo de importação.


No período de 2028 a 2031, espera-se um aumento gradual na demanda devido à sua utilização na indústria e em projetos piloto de mobilidade. Essa demanda será suprida por importações de países vizinhos, como Noruega, Dinamarca e Espanha. Caso o hidrogênio verde não seja viável, o hidrogênio azul com captura e armazenamento de carbono pode ser uma alternativa.


O crescimento na demanda de 2032 a 2036 é resultado da ampliação do uso industrial e da mobilidade, bem como dos primeiros usos energéticos em termelétricas, visando atingir a meta de desativar as usinas a carvão. A demanda continuará sendo atendida pelos países vizinhos, agora facilitada pela expansão progressiva da rede de gasodutos tanto na Alemanha quanto na Europa. Entretanto, os primeiros testes de craqueamento de amônia em escala industrial podem ocorrer neste período.


Apenas depois de 2036, a demanda na Alemanha ultrapassará a oferta interna e levando em consideração que os países vizinhos também vão buscar a sua descarbonização, fato que tornará a importação de hidrogênio via navio de regiões mais distantes necessário. 


Ao analisar o cenário atual, identifiquei que o mercado de hidrogênio verde para fins energéticos, que promete ser altamente demandado no futuro, terá um desenvolvimento gradual e só se tornará relevante para o Brasil a partir de 2035.


Embora a notícia possa não parecer muito positiva à primeira vista, há um outro mercado que já está bem estabelecido, maduro e tem o potencial de se desenvolver mais rapidamente do que o de hidrogênio: é o mercado de derivados, como Amônia, Metanol, Nafta, SAF e Gás Natural Renovável (RNG). O gráfico ilustrativo a seguir demonstra a expectativa de crescimento desses produtos na Alemanha. 


derivados cinzas para os derivados verdes
derivados cinzas para os derivados verdes

 A dinâmica do mercado difere daquela no setor do hidrogênio. Estamos presenciando uma transição de derivados cinzas para os derivados verdes. Atualmente, por exemplo, a indústria química é uma grande consumidora de amônia e metanol, entretanto, estes são produzidos predominantemente a partir de fontes fósseis, como gás natural e carvão.



A forma mais rápida e eficiente para as empresas reduzirem a sua pegada de carbono é substituir esses produtos pelos mesmos, só produzidos a partir de fontes renováveis e usando carbono biogênico.


E esse mercado vai continuar crescendo ao longo do tempo, principalmente pelo aumento do uso de metanol e de SAF na mobilidade. Os meios de transporte para os derivados já estão disponíveis, indicando que a atuação neste mercado não necessita de grandes investimentos em infraestrutura ou novas tecnologias, podendo ser iniciada imediatamente.


O hidrogênio renovável é um elemento crucial na transição energética, tornando-se uma opção superior. Por isso, as empresas europeias deveriam focar na produção de hidrogênio verde para propósitos energéticos predominantes. O mercado de derivados poderia ser deixado para países com custos de produção de hidrogênio mais acessíveis.


E ainda existe um outro ponto que ficou claro durante as conversas com as empresas na Europa. Para muitas aplicações, Metanol, Amônia ou Nafta, por exemplo, representam apenas um insumo entre muitos outros. A influência na composição do custo final não é tão alta quanto comparado ao uso energético. Substituir os derivados cinzas por verde pode ser vantajoso para as empresas na redução da pegada de carbono dos produtos. Considerando que o impacto no custo final não é significativo, elas podem estar dispostas a pagar um preço premium pelo derivado verde. 


Além disso, a Clean Energy Latin America - CELA, publicou recentemente um levantamento sobre o custo nivelado de hidrogênio e amônia verde. O resultado mostra que a amônia verde no Brasil já é mais competitiva que o hidrogênio verde, reforçando mais esses novos caminhos que estou apresentando.


Índice LCOA da Amônia Verde da CELA, US$/ton

Ou seja, para que o Brasil possa fomentar a sua indústria de hidrogênio verde e satisfazer a demanda do mercado de Off Taking, é fundamental acompanhar continuamente o progresso dos planos destes países. Inicialmente, o fornecimento de hidrogênio parecia uma opção promissora para fins energéticos. No entanto, ajustes e planos políticos recentes mostram que a transição energética requer mais tempo para se desenvolver e alcançar maiores escalas. E afirmo, a Europa apresenta oportunidades excelentes para o fornecimento de seus derivados diretos, e o Brasil pode se tornar um pioneiro ("First Mover") neste mercado, atendendo empresas na Alemanha e em outros países que estão investindo recursos e esforços para descarbonizar as respectivas produções.


O Brasil deve produzir hidrogênio para fins energéticos?


Sobre o autor:

Ansgar Pinkowski é engenheiro mecânico, especialista internacional em Transição Energética e Hidrogênio Verde, com mais de 20 anos de experiência em empresas multinacionais, fundador da Agência Neue Wege, empresa dedicada à realização de negócios entre Brasil e Europa no âmbito da transição energética. 


Apresentador do programa "O mundo da Transição Energética", para o Energy Channel, Ansgar dialoga com especialistas do Brasil e do mundo sobre transição energética.


Conecte-se com ele por e-mail, ansgar@neuewege.com.br ou pelo LinkedIn https://www.linkedin.com/in/ansgar-pinkowski/ 




2件のコメント

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valdomirospereira
2024年10月29日
5つ星のうち5と評価されています。

Parabéns Ansgar, sucesso sempre.

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Inácio Abreu D. L Junior
2024年10月25日
5つ星のうち5と評価されています。

Muito boa a matéria, parabéns Ansgar.

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