Entre a aceleração da transição energética e o financiamento de impactos climáticos, a urgência por ações reais nunca foi tão evidente. Como podemos transformar promessas em soluções concretas?
Recentemente, dois grandes eventos chamaram não só a minha atenção, mas de todo o globo: COP 29 em Baku e o G20, no Brasil. Ambos levantaram reflexões importantes sobre os caminhos da ação climática global.
Esses dois fóruns, que deveriam estar perfeitamente alinhados em seus propósitos, no meu ponto de vista, destacaram uma realidade preocupante: enquanto o G20 discutiu o que fazer para acelerar a transição energética, a COP 29 estava focada em como financiar os efeitos que a crise climática já está causando.
Esse contraste entre as agendas me revela uma verdade inquietante: a mudança climática não é mais um cenário futuro que podemos evitar; ela já está aqui, impactando comunidades, economias e ecossistemas em todo o mundo.e vai precisar de muito, mas muito dinheiro, além de esforços globais e coletivos para frear o que estamos vivendo.
Estamos falhando em implementar ações efetivas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. O estudo da World Resources Institute (WRI) diz que as emissões de CO2, causadas por atividades humanas alcançaram patamares inéditos ao longo da história. Nunca se emitiu tanto GEE. Em 2022 (último ano com dados disponíveis), os níveis globais de CO2 emitidos foram 182 vezes superiores aos registrados em 1850, período marcado pela Revolução Industrial. Entre os cientistas já é um fato consumado: vamos romper a barreira de aumento de temperatura de 1,5 C. A questão agora é se vamos conseguir ficar abaixo de 2 C.
Estamos presos em um perigoso ciclo paradoxal: adiamos a transição energética por questões de custos individuais de cada projeto, mas teremos que lidar com as consequências, fato que será ainda mais caro ainda para toda a sociedade. Segundo o relatório do IPCC de 2022, o custo de mitigar os impactos das mudanças climáticas pode ser de três até seis vezes maior do que o investimento necessário para implementar soluções de transição energética até 2030. O IPCC também traz que o financiamento para combustíveis fósseis ainda supera o financiamento para ações climáticas.
E esse é um ponto que precisa ser tratado com urgência e seriedade. Cada dólar investido hoje na transição energética é um dólar economizado no futuro — e, mais importante, vidas, ecossistemas e economias que podem ser preservados.
Mas por que estamos falhando em transformar esses compromissos em ações reais? Essa é uma pergunta que precisamos responder coletivamente. Não há escassez de tecnologias, como o hidrogênio verde, fontes renováveis e eficiência energética. Sabemos que a lacuna está na implementação: transformar metas climáticas em projetos viáveis, políticas públicas eficazes e parcerias globais que impulsionem essa mudança, inclusive comportamental.
E no Brasil? O país tem recursos abundantes e competitivos em energias renováveis, como solar, eólica e biomassa, além de ser um candidato natural para se tornar uma potência no mercado de hidrogênio verde. No entanto, para maximizar esse potencial, precisamos olhar para além da exportação de recursos e nos perguntar: como garantimos que esses avanços tecnológicos e econômicos também beneficiem nossas comunidades locais e reduzam nossas próprias emissões?
Além disso, os eventos globais recentes reforçam a importância de posicionar o Brasil estrategicamente como um parceiro confiável em transição energética. A Europa, por exemplo, tem planos robustos para a descarbonização de suas economias e está construindo redes de infraestrutura para viabilizar a importação de energia renovável e seus derivados. Voltando ao contraste entre o G20 e a COP 29, uma coisa fica clara: o custo da inação é insustentável.
Se continuarmos adiando decisões difíceis e mantendo o foco apenas na mitigação, não na prevenção, estaremos condenados a um futuro onde os impactos climáticos dominam as agendas e notícias globais, deslocando completamente qualquer discussão sobre desenvolvimento sustentável e prosperidade.
O momento de agir é agora. A transição energética não é apenas uma oportunidade econômica, mas uma responsabilidade global. As oportunidades econômicas são gigantescas para o Brasil, mas para ser líder na transição energética global precisamos nos tornar um exemplo na transformação da indústria nacional, para promover a transição justa uma realidade à sociedade brasileira. E essa responsabilidade começa com cada um de nós — líderes empresariais, formuladores de políticas, investidores e cidadãos. Precisamos urgentemente de mais cooperação, mais implementação e menos promessas vazias.
Convido você a refletir comigo: como podemos, individual e coletivamente, mudar esse cenário? Quais ações práticas podemos implementar para acelerar a transição energética e garantir que o custo de mitigação não seja a única discussão no futuro?
Deixo aqui meu convite para o diálogo: vamos pensar juntos em novas soluções e caminhos. Porque o tempo para adiar decisões já ficou para trás.
O G20 e a COP 29: será que já compreendemos o custo da inação climática?
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