por Evandro Mendes, CEO na ELETRICUS | Infraestrutura de recarga para veículos elétricos.
Saiu ontem no Diário Oficial do Estado de São Paulo uma consulta pública para o parecer sobre “Ocupações com estações de recarga para veículos elétricos”. Esse parecer aborda diretrizes para a implementação de pontos de recarga, focando em segurança e na liberação do AVCB.
Primeiramente, é válido destacar a importância de discutir a segurança de veículos elétricos, estações de recarga e instalações. A @Eletricus, especializada em infraestrutura de recarga para veículos elétricos e que prioriza a segurança, considera essencial esse levantamento e discussão.
Importante ressaltar que não existe histórico de veículos elétricos que tenham pegado fogo no Brasil devido à bateria, BMS ou carregador. Observando os EUA, segundo maior mercado mundial, entre 2019 e 2022, apenas 3 a 5 veículos pegaram fogo durante a recarga, de um total de quase 6 milhões de veículos. Estamos falando de quase um incêndio para quase 1 milhão de veículos, um número praticamente irrelevante. Em contraste, a incidência média de incêndio em veículos a combustão foi de cerca de 213 mil por ano no mesmo período.
A PRIMEIRA INCONSISTÊNCIA surge na proposta apresentada para a consulta: se o veículo elétrico "é" mais perigoso do que o veículo a combustão, na avaliação deles, por que o corpo de bombeiros focaria nas estações de recarga ao invés dos próprios veículos elétricos? Afinal, sem carregadores, não haveria riscos, segundo essa lógica. Surpreendentemente, a probabilidade de um veículo elétrico pegar fogo durante a recarga é a mesma de uma pessoa ser diretamente atingida por um raio.
Dados mostram a incidência de incêndios a cada 100 mil veículos como segue:
Híbridos – 3.474,5
Elétricos – 25,1
Isso indica que a cada 100 mil carros, apenas 25,1 incêndios envolvem veículos elétricos, número quase 61 vezes menor do que os carros a combustão. Veículos híbridos, que foram os primeiros a ganhar mercado, tinham sistemas de baterias comuns, muitos de chumbo, e não de lítio. Atualmente, a tecnologia avançou, eliminando esse risco.
Veículos elétricos são extremamente seguros e passam por rigorosos processos de qualidade e certificação. Atualmente, com uma frota de aproximadamente 220 mil unidades no Brasil, não há registros de incêndios.
A SEGUNDA INCONSISTÊNCIA é que, com mais de 10 anos de experiência no mercado de instalações, posso afirmar que a questão da qualidade dos produtos e das instalações é muito mais crítica. A má qualificação de “profissionais” que se autoproclamam especialistas, mas cometem atrocidades no mercado de instalação elétrica, é alarmante. Nos próximos meses, acredito que veremos incêndios causados pela recarga de veículos elétricos, mas devido à péssima qualidade das instalações elétricas. Já presenciei casos de carregadores alimentados com disjuntores de 40 A, cabos de 2,5 mm2 para distâncias superiores a 30 ou 40 metros, e frequentemente, cabos de qualidade inferior, com menos cobre do que o recomendado, fabricados com materiais baratos e de baixa qualidade. Segundo a ABNT NBR 17.019, as tomadas industriais que alimentam sistemas de recarga devem ser protegidas com DR Tipo A, mas raramente isso é observado, muitas vezes utilizando-se apenas DR Tipo AC, ou pior, sem nenhum DR.
A norma ABNT NBR 17.019 possui 14 páginas. É inaceitável que profissionais desse setor não a estudem e compreendam. Tive a sorte de participar da criação dessa norma no Brasil, ao lado de profissionais competentes, e todos nós aprendemos muito.
Sou crítico e rigoroso com questões técnicas e de segurança. A discussão iniciada pelo corpo de bombeiros é valiosa, e precisamos debater, estudar e entender como o tema é tratado em outros países para avançar na avaliação técnica. Contudo, antes de criar restrições, precisamos de mais clareza. É positivo que o Brasil comece a tratar da segurança de carros elétricos e sistemas de recarga de forma responsável, mas devemos basear-nos em sólidos fundamentos para não gerar restrições ou complicações desnecessárias, as famosas jabuticabas.
E qual sua opinião no tema? Deixe nos comentários e compartilhe para que mais pessoas possam entrar nessa discussão.
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